segunda-feira, 27 de abril de 2009

Leo, um exemplo de pontualidade e generosidade

Minha família recém havia se mudado para Porto Alegre, Américo Vespúcio 386. Eberhard Sydow, meu pai, que me dera as primeiras lições de flauta doce e de harmônio quando morávamos em Restinga Seca, queria que eu continuasse meus estudos no piano e teve a idéia de ver o professor Leo Schneider. Mamãe foi reticente. Ñão seria o maestro um professor "zu hoch" de nível demasiado elevado para um principiante?

Um pouco atormentado fui visirar o maestro a reboque do meu pai e da cara e da coragem que lhe eram típicas. Recebidos com a maior cordialidade, conversamos longamente e ouvimos vários conselhos. Entre outras coisas o maestro nos confidenciou que seu primeiro emprego fora trabalhar numa ferragem, a conselho de seu pai. Perplexos tentávamos imaginar o adorável maestro atrás de um balcão repleto de parafusos e quetais. Lições de humildade.


Conclusão: fui estudar piano com a professora Marieta Heuser; e em Dezembro de 1974, férias de verão do Ginásio Pastor Dohms, era possível encontrar-me atrás dos balcões repletos de parafusos e quetais da Ferragem Gerhardt Ltda.

Em 1977 tornei-me organista na igrejinha da Martin Luther. Já acompanhara durante três anos o canto tocando nas meditações do Colégio Sinodal de São Leopoldo, onde completava o ensino médio de 1974-6. Assim, aos domingos pegava o T2 da Carris no Menino Deus para acompanhar o canto da comunidade de confissão luterana no pequeno órgão de tubos que havia no templo da Av. D. Pedro II. Sucedia minha mãe que havia desempenhado o papel de organista e regente de coro de 1969 a 1976. A princípio ela o fazia "ehrenamtlich" (sem cobrar nada). De repente alguém da diretoria se lembrou que devia ser gratificada. Retroativamente. Foi uma festa! Mas minha mãe doou todo dinheiro para a creche de Alvorada. Também o Naumann tocava órgão, mas era só no culto em alemão. E a Frau Pfarrer Lützow, que trazia algumas novidades animadas pelo novo ritmo pop da música da Igreja na Alemanha.

Como já estava na Universidade Federal do Rio Grande do Sul estudando no Instituto de Física (quando conheci o Dr. José Moreira, esposo da organista Anne Schneider que tocou no meu casamentono dia 31 de dezembro de 1981) resolvi matricular-me em prática de Órgão em Curso 2. Nos anos 1970 isso ainda era possível. Finalmente o maestro Leo Schneider tinha tempo para mim. A aula estava prevista para iniciar às 8h30 da manhã, na rua Senhor dos Passos 202. Mas o professor já vinha às 8h e eu tinha que estar lá às 7h55 para abrir as portas. As primeiras peças que recebi para estudar foram de Domenico Zipoli - Elevazione, Edmond Lemaigre - Andantino, J. M. Anding - Adagio, Henry Smart - Con moto Moderato, além de exercícios de pedal.

Rigorosamente pontual. E infalível. Mas não usava o mesma rigor com seus alunos. Ao contrário. Convidou-me para participar ex-matrícula (como visitante) de outras aulas que ministrava no Instituto de Artes. Analisava e discutia a interpretação de obras pianísticas.

Amanhã eu continuo